domingo, 25 de outubro de 2015

COMPORTAMENTO: Casadas mantêm mais relações sexuais indesejadas do que as prostitutas. Por Regina Navarro Lins


Regina Navarro Lins
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Ilustração: Lumi Mae
Ilustração: Lumi Mae

Comentando o “Se eu fosse você''

A questão da semana é o caso do internauta que é casado há 11 anos, mas de cinco anos para cá sua mulher foge do sexo. Ele já tentou tudo, mas não tem jeito. Ela sempre evita dizendo que está cansada. Ele não sabe se termina o casamento ou procura outras mulheres.
O problema que o internauta está vivendo é mais comum do que se imagina. É grande o número de mulheres, que amam seus maridos, mas não sentem vontade fazer sexo com eles, que precisam se impacientar, reclamar, para que elas se submetam aos seus desejos.
Essa realidade nos faz acreditar no filósofo inglês. Bertrand Russel quando afirmou que as mulheres casadas mantêm mais relações sexuais indesejadas do que as prostitutas.
Até mulheres economicamente independentes também vivem esse drama. A dependência emocional acaba sendo tão limitadora quanto a financeira. Ambas podem conduzir a uma vida sexual limitada.
Imaginar-se sozinha, desprotegida, sem um homem ao lado, é percebido como insuportável. Mas a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção.
Numa relação estável busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista.
Mas ninguém fica sabendo o que acontece na vida do casal. Comentar o assunto significa admitir o que se tenta negar. Socialmente é difícil acreditar que aquele casal jovem, com tanta energia e manifestações de carinho entre si não vive uma sexualidade plena. Em muitos casos, a escassez de sexo progride até a ausência total.
Há quem diga que é necessário quebrar a rotina, ser criativo. As sugestões são variadas: ir a um motel, viajar no fim de semana, visitar uma sex-shop. Mas de nada adianta. O desejo sexual intenso é que leva à criatividade, e não o contrário. Quando não há desejo, a pessoa só quer mesmo dormir. Quem se angustia com essa questão sabe que desejo sexual não se força, existe ou não.
A falta dele no casamento nada tem a ver com amor. Muitas mulheres, como a esposa no caso acima, amam seus maridos, só não sentem mais desejo por eles.
O sofrimento da mulher é maior quando ela reconhece no parceiro um homem inteligente, generoso, afetivo, e o mais doloroso de tudo: um homem que a ama e a deseja.
Nesses casos é comum ouvirmos lamentos do tipo: “Nunca vou encontrar ninguém parecido.” E com medo do novo, de ficar sozinha, pode acabar optando por uma relação assexuada, até convencendo o marido que sexo não é tão importante.
O número de homens que perdem o desejo sexual no casamento é bem menor do que o de mulheres. Alguns fatores podem contribuir para isso.
Em primeiro lugar, o homem, na nossa cultura, é estimulado a iniciar a vida sexual cedo e se relacionar com qualquer mulher. Outra razão seria a necessidade de expelir o sêmen e, por último, a sua ereção seria mais rápida do que a da mulher, na medida em que necessita de menos quantidade de sangue irrigando seus órgãos genitais.
Não é necessário dizer que existem exceções, e que em alguns casais o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão. O que fazer?
Acredito que um casamento pode ser ótimo, inclusive sexualmente. Mas é necessário refletir a respeito do modelo de casamento que se vive na nossa cultura.
Para isso as pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois, como, por exemplo, a ideia de que os dois vão se transformar num só; a crença de que um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro; não poder ter nenhum interesse em que o amado não faça parte; o controle de qualquer aspecto da vida do outro.
É fundamental que haja respeito total ao outro, ao seu jeito de pensar e de ser e às suas escolhas; liberdade de ir e vir, ter amigos em separado e programas independentes. Caso contrário, a maioria das relações, com o tempo, se tornam sufocantes e assexuadas.

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